Papo de Terreiro: Pai Bobó de Iansã

Pai Bobó de Iansã

 


Pai Bobó de Iansã

José Bispo dos Santos ou Bobó de Iansã é uma das figuras centrais no processo de expansão que o Candomblé baiano realizou no período posterior a 1950 em direção ao sudeste. Tendo passado pelo Rio de Janeiro no período de 1950 a 1957, foi em São Paulo a partir do ano de 1957 que desenvolveu seu axé por mais tempo ao fundar o Ilê Oyá Mesan Orun no município do Guarujá. Ali Pai Bobó plantou seu axé por longas décadas, quando no ano de 1993 veio a falecer.

Mas o trabalho estava feito e os candomblés de São Paulo já poderiam se orgulhar de possuir casas com tradição e muito Axé, orgulho em grande medida construído por Seu Bobó, seus inúmeros filhos de santo e, principalmente, pela sua famosa Iansã, a qual ao descer em suas festas deixava muitos sacerdotes de longa estrada com muita admiração.

Depois de 1993, o Axé de Pai Bobó passou para Mãe Ditinha e a Pai Ajagunan que o desenvolvem no Ile Axé Airá.

O Ilê Oyá Mesan Orun foi fundado por José Bispo dos Santos (Pai Bobó) no Estado de São Paulo. De onde iniciou muitos filhos de santo, dando continuidade ao Axé de Oxumarê, originário da bahia. Pai Bobó foi iniciado por Iyá Cotinha de Yewa.

Segundo Reginaldo Prandi, sociólogo e pesquisador dos Candomblés no contexto paulista, pai Bobó de Iansã é figura central na constituição do candomblé em São Paulo, veja:

“O mais antigo terreiro de candomblé no Estado de São Paulo foi fundado, pelos dados de que disponho, em Santos, em 1958, por Seu Bobó. Vindo da Bahia, Seu Bobó, José Bispo dos Santos, hoje com 75 anos de idade [no momento da pesquisa em 1989], ficou no Rio de 1950 a 1957. Diz a lenda (Bobó já é, em vida, uma lenda do povo-de-santo de São Pado) que. Bobó, na Bahia, teria sido suspenso, isto é, escolhido por um orixá no transe, para ser ogã no terreiro de Maria Neném (Maria Genoveva do Bonfim), um dos importantes troncos do candomblé angola, e que depois teria freqüentado a casa de Simpliciana (Simpliciana Maria da Encarnação), ialorixá do terreiro de Oxumarê[1] (outro tronco fundante do candomblé em Salvador, hoje dirigido por Tia Nilzete [no momento da pesquisa em 1989 - ver casa de Oxumarê]). Acontece que um ogã não pode ser pai-de-santo, pois ele não tem a faculdade de entrarem transe. Comentei sobre essas coisas com ele e Seu Bobó me explicou: ‘Estes meninos de hoje, o que eles sabem do tempo dos antigos? Eu sou do santo e estou no santo faz mais tempo que o avô deles. Mas quando eles precisam aprender alguma coisa eles pegam o ônibus lá no metrô e vêm tudo correndo aqui.’ A casa-de-santo de Seu Bobó está há muito tempo no bairro do Itapema, Rua Projetada Caic, 63, município do Guarujá, do outro lado do canal do porto de Santos. Bobó é pai-de-santo de chefes de muitas casas de São Paulo, filhos que ele iniciou, ou que adotou ritualmente, como Roberto de Oxóssi”[2]

Sobre a vida de Pai Bobó de Iansã, ou Seu Bobó, como muitos gostavam de chamar, a matéria jornalistica de Roberto Rodrigues e Luiz Bicudo é esclarecedora, segue uma parte dela:

“Em julho de 1993 o Candomblé lamentou a morte de José Bispo dos Santos, um dos maiores responsáveis pela introdução da religião dos Orixás no Sudeste, especialmente em São paulo. tornou-se famoso com o apelido de bobó de Iansã e em 1948 era citadi por Edison Carneiro no livro Candomblés da Bahia entre os babalorixás que vinham adquirindo sucesso na cidade de Salvador. Iniciado aos quatro anos de idade pela eminente ialorixá Cotinha de Ewá, Pai Bobó honrou até os últimos dias a Casa de Oxumaré, não obstante suas estreitas ligações com o Gantois, pois Zezinho – como o chamava Mãe Menininha – não se furtava dos conselhos da grande mãe-de-santo, que ele adorava tanto, que no dia 13 de agosto de 1986, quando Mãe Menininha faleceu, entre lágrimas, fez o solene juramento de jamais voltar à Bahia. E cumpriu. A Bahia, contudo, vinha até Pai Bobó: tantos ogans e matronas do Gantois, Mãe Nilzete de Iemanjá, então ialorixá do Axé oxumaré, não perdiam as festas de Iansã, que levavam milhares de pessoas ao litoral paulista, mais especificamente à cidade do Guarujá, onde Pai Bobó plantou seu axé.

Pai Bobó deixou Salvador em 1950. Veio primeiramente para o Rio de janeiro e por alguns anos esteve ao lado de Joãozinho da Goméia, auxiliando-o nas funções sacerdotais. Já em São paulo, em 1957, fundou o Ilê Oyá Mesan Orun, na cidade de Santos, comprovadamente o primeiro Candomblé do Estado. Os atabaques que bateram o primeiro Candomblé de São paulo foram presentes de Pai Baiano (Waldemiro de Xangô) e até hoje ecoam nas noites do litoral.
A herdeira da casa de Pai Bobó é a sua filha carnal e espirutal Mãe Clarinha de Oyá.

Os filhos de Pai Bobó são inúmeros, segue abaixo alguns deles:

Pai Cido de Oxum Eyn “Ilê Dara Ase Osun Eyn” – São Paulo/SP
João de Logun Edè, Asé Egbé Awòn Logun Edè – casa de Candomblé localizada no Jardim Guaramar, Praia Grande, São Paulo, inaugurada em 3 de agosto de 1990, tem como dirigente o babalorixá João de Logun Edè.

O babalorixá João Batista Dias Cardoso mais conhecido como João de Logun Edé, foi iniciado pelo babalorixá José Bispo dos Santos, conhecido como Pai Bobó, no antigo terreiro da Fazendinha em Vicente de Carvalho, Guarujá, São Paulo. Após o falecimento de Pai Bobó, o babalorixá João passou para o Axé Iyá Nassô Oká e através da saudosa iyalorixá Mãe Nitinha de Oxum, a qual foi responsável por toda cerimônia do axé e do babalorixá.

Sempre ao seu lado o babalorixá conta com uma figura expressiva que é o babakekerê e Herdeiro do Axé Dário de Logun Edé, que foi iniciado por iya Ominimdê d Osun que vem ser iyakekerê do axé da saudosa iya Tolokê de Logun Edé iniciada pelo saudoso babalorixá Joãozinho da Goméia. Hoje o babakekerê é voltado ao Axé Oxumarê pelas mãos do babalorixá Pecê de Oxumarê, retornando assim à primeira origem, ou seja: Axé Oxumarê.

Com sua bandeira da Nação de Ketu, o babalorixá João de Logun Edé é profundo conhecedor dos fundamentos religiosos desta Nação, tendo como seu principal discípulo o babalaxé Dário, ajudando a elevar a bandeira do candomblé na Baixada Santista.

fonte: revista xire