Papo de Terreiro: agosto 2015

A Origem da Palavra ÌYÀWÓ

A Origem da Palavra ÌYÀWÓ

A palavra ìyàwó possui sua origem numa história conectada com Òrúnmìlà e sua viagem a cidade de Ìwó, e que ora relatamos:" Um certo dia, Òrúnmìlà desejou se personificar em um ser humano. 

Vestiu-se com folhas de bananeira como se fosse um maltrapilho e se dirigiu à cidade de Ìwó. Ali viu Oba em toda sua imponência, com seus assistentes e chefes, pois era época de festa anual. Sentou-se em frente a casa do Oba e se serviu das sobras de comida que jogavam fora. Ao ver isso, o Oba o entendeu como um estranho e ordenou que servissem um prato de comida para ele. Mais tarde, Òrúnmìlà disse ao Oba que queria dormir um pouco. 

A fim de se livrar do estranho maltrapilho, o Oba ordenou a seus servidores que preparassem um lugar para ele, com toda a roupa de cama salpicada com fiapos e sementes de uma certa planta que provocava comichão. Òrúnmìlà dormiu sobre isto e, quando acordou sentiu uma coceira pelo corpo, correu para o rio para se banhar. 

De manhã cedo, foi até Oba e disse a ele que tinha tido um bom sono. Em seguida, jogou Òpèlè, o rosário divinatório para Oba, e fez previsão para ele, dizendo que teria um reinado longo e próspero. Novamente, Òrúnmìlà continuou com seu comportamento estranho, comendo sobras de comida, mas predizendo para as pessoas. 

No seu terceiro dia em Ìwó, a filha do Oba começou a gostar de Òrúnmìlà, e decidiu se casar com ele. Todos ficaram horrorizados, uma princesa se casar com o estranho maltrapilho. Mas ela insistiu e o Oba teve de concordar, dividindo seus bens com Òrúnmìlà, em forma de dote. Òrúnmìlà, então, foi viver fora da cidade com a princesa. Ficou dono de muitos bens, passou a ter assistentes e muitos cavalos, devido aos presentes que recebeu de Oba.

Assim, quando as pessoas perguntavam quem era sua esposa, Òrúnmìlà respondia que era uma humilhação que sofreu em Ìwó. Ìyà significa humilhação, e Ìwó, o nome da cidade onde sofreu humilhação. As duas palavras formam Ìya Ìwó, e que veio a se tornar Ìyàwó. Desse momento em diante, os yorubá se referiam a noiva de Òrúnmìlà como Ìyàwó, que , assim passou a ser a palavra que define uma esposa."

ALTAIR T'OGUN FALA SOBRE A POLÊMICA DO IGBÁ-ORÍ

ALTAIR FALA SOBRE A POLÊMICA DO IGBÁ-ORÍ







Aí é que começa a história do igbá-orí, literalmente, cabaça da cabeça, pois os assentamentos eram feitos em cabaças – igbá, daí o nome ter virado sinônimo de assentamento de Òrìsà, a cabaça do orí. Costuma-se fazer assentamentos com as mais variadas coisas para representar o orí de uma pessoa.

Esta variedade de coisas deve-se, a que o orí seja o que individualiza o ser humano.

Como no caso das impressões digitais, ninguém tem orí igual ao de outra pessoa, cada orí é único e exclusivo daquela pessoa. Então, faz-se o assentamento numa cabaça ou tigela, o mais comum entre nós, e esse assentamento é cultuado como igbá-orí, ou seja, a representação física do orí-inú da pessoa.

Tudo bem, este comportamento é usual e corrente. Mas, sem querer ser o único certo, longe de mim isso, eu não concordo com esse tipo de igbá-orí, porque eu penso que a melhor representação do nosso orí-inú é o nosso orí físico, ou seja, a nossa própria cabeça. A nossa cabeça física é a materialização da nossa cabeça interior, acho eu. Qual o melhor objeto para representar o nosso orí-inú, que não a nossa própria cabeça? É dentro dela que se instala a outra do òrun, por isso, chamado orí-inú (cabeça interior).

Mas interior onde? Da cabeça física que também, acho, tem o formato do igbá (cabaça). Quando fazemos um borí, nós estamos cultuando esta cabeça interior. E onde nós fazemos os preceitos? Diretamente em nossa cabeça, pois é ali que mora o nosso ori-inú e o nosso Òrìsà. Então, é à nossa cabeça que devemos reverenciar, não aquela tigela com alguns objetos que dizem, ser o igbá-orí. Digo isso por que acredito assim.

E algumas vezes, quando sou questionado por algumas pessoas que por “n” motivos, perguntam o quê fazer com seu igbá-orí. Outros, preocupadíssimos porque seus zeladores não querem entregar ou que pior ainda, despacharam seus igbá-orí.

Então, converso com elas dizendo isso que acredito. Grande parte delas se acalma e acaba concordando comigo. Não que eu seja o dono da verdade, mas, há lógica em minha teoria.

Entretanto, se não houver, é um bom assunto para ser pensado por todos. Igbá-orí não deveria existir, pois não há lugar melhor para cultuar orí-inú que sobre orí-òde, porém ficou convencionado o uso dele.

Quanto ao igbá-orí, a representação material do Orí, a bandeja onde guardamos o double, este contém alguns itens de conhecimento restritos àqueles que tem o seu ori “assentado”.

Posso, porém assegurar que entre estes itens jamais encontrarás um òkúta (ota). Igbáorí, segundo a tradição [iorubá] de Òrìsà, não leva òkúta. (o grifo é nosso).

Livro: Cantando para os Orixás - Altair T'Ogún

Cantando para os Orixás - Altair T'Ogún


Abarca 376 cantigas de Nação Ketu, contendo o texto em Yoruba e sua transcrição fonética para o português.


Àsèsè - O Reinício da Vida - ALTAIR TOGUN

Àsèsè - O Reinício da Vida



Orins da apostila Àsèsé - o reinício da vida, versando sobre os rituais fúnebres segundo as tradições Yorùbá e do Candomblé Afro-brasileiro



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ALTAIR TOGUN

ABAIXE A CABEÇA IYAWO, NÃO OLHE NOS MEUS OLHOS OU MEU ÒRÌSÀ LHE MATA!


ABAIXE A CABEÇA IYAWO, NÃO OLHE NOS MEUS OLHOS OU MEU ORÌSÀ LHE MATA!

Sabe-se que o Candomblé, sobretudo, cuja nação é Queto e aparentados tem sua origem nas estruturas sociais yorùbá. Sabe-se também que entre os yorùbá o respeito aos mais velhos, aos sábios, àqueles que guardam o conhecimento e histórias, aos pais, às mães, aos professores, àqueles que vieram antes e mostraram o caminho é extremamente valorizado e, por isso, o mais jovem ajoelha-se para falar com o mais velho, não lhe encara e que, lingüisticamente, há morfemas (palavras específicas) no tratamento entre as diferentes gerações. “E ku”, como honorífico, sempre precede os cumprimentos aos mais velhos, há pronomes de tratamento específicos para que se refira aos mais velhos e até um simples “como está” adquire uma forma especial quando é dirigido a um mais velho. 
Some-se a isso, um gestual do corpo e dos olhos que deve acompanhar estas formas de tratamento. 


No Candomblé, ouve-se muito: abaixe a cabeça iyawo, não olhe nos meus olhos iyawo, não se sente em lugares mais altos daqueles onde estão sentados seus mais velhos iyawo. Ocorre que o tom usado sempre é para oprimir, chega a ser agressivo e sempre alça a divindade à posição de vilão e nunca há uma explicação que poderia, certamente, amenizar a repulsa por opressão, sobretudo, a cristão e colonizadora. 
A primeira explicação é esta: 
(1) o modelo social de origem do Candomblé e o respeito por aqueles que são os criadores; respeito aos saberes ancestrais e aos seus guardiões; 
(2) ao baixar a cabeça, os olhos tão contaminados, que tudo precisam ver para controlar, aos quais o ocidente atribui a única verdade e que representa a virilidade de uma sociedade falocêntrica – é preciso estar ereto para que os olhos vejam “direito” – coloca-se esses valores em segundo plano e, como cultuamos Ori, Ori é quem deve ver primeiro tudo – Orí, ao abaixar-nos, pode ver de uma vez os 360º não vistos pelos olhos e por isso pede-se que se honre Orí por meio de um silenciar dos olhos e valorizar da cabeça; 
(3) ninguém será punido ou condenado ou morto por não fazer isso. Trata-se de um código social – questão de educação e, neste, novo mundo, os olhos são menos importantes que a cabeça e, por isso, ela – Orí-inu (cabeça-ventre ancestral-destino) deve ser evidenciada e a ela o iniciado deve confiar a sua “visão”; 
(4) ao fazer isso, negamos a ereção, o controle pelos olhos, a necessidade do visto e o não sabido e, sobretudo, honramos a nossa cabeça e a nossa própria escolha, quando decidimos adorar a nossa cabeça/mente/conhecimento/ancestral. 
Também não me disseram e também me disseram que um dia eu saberia. Só não entendo porque as pessoas de Candomblé precisam tornar o caminho e a aceitação mais difíceis; porque sabemos que tudo sem significado fica mais doloroso e podemos nos confundir.

fonte: Sidnei Barreto/ Candomblé Pesquisa

Depoimento do babalorixá Messias de Oyá


Depoimento do babalorixá Messias de Oyá

Entrevista com o Babalorixá Messias de Oyá, em sua casa em Vassouras RJ, que nos brindou com um didático relato sobre Exú e a mitologia do Candomblé.


Simplesmente é algo que todos deveriam ouvir.