Papo de Terreiro: 2016

Quem Somos?







Este Projeto Nasceu em Junho de 2011. No começo era um tímido Blog mas com grande objetivo, o de transmitir o máximo de conhecimento, com o objetivo de fornecer conhecimento de uma forma universalista, livre de dogmas, julgamentos e tabus. Visando o engrandecimento da nossa religião. Naquela época poucos eram os blogs sobre o tema, e raros sobreviveram até hoje.

Com o advento das redes sociais, foi criado uma página no facebook, a Papo de Terreiro, que logo cresceu sem uma campanha sequer para angariar simpatizantes.

A partir daí, Nasceu a Rádio Papo de Terreiro que tem o mesmo objetivo do projeto inicial:-A transmissão de esclarecimentos Sobre nossa Religião.

A Rádio Papo de Terreiro se propõe a trazer até você a melhor qualidade em conteúdo Religioso Afro-Brasileiro do país. Aqui você entra no clima se divertindo com a gente e com nossa programação que é exclusivamente dedicado ao melhor ouvinte do mundo: você!

E não é só isso. O blog em junção com a Rádio traz conteúdos como: artigos, notícias, eventos e informações relacionadas com a espiritualidade, fornecendo ainda mais possibilidades de estudo e aprendizado aos nossos ouvintes.  Atualmente, o site é acessado por mais de 68 países.

É por isso que a nossa maior alegria é ter você como amigo(a), portanto com enorme satisfação viemos lhe agradecer:

Obrigado pelo carinho e sua audiência.

Babalorixá Oríosè e Familia Papo de Terreiro.

Òdúndún – O Pai que espalha calma sobre a Terra




 Olá meus Irmãos! Bora pra mais um Papo de Terreiro? E o assunto agora é:

 Òdúndún – O Pai que espalha calma sobre a Terra

Por: Hérick Lechinski (Ejòtolà T'Òsùmàrè)



Nome Yorùbá: Òdúndún, Elétí.
Nome Popular: Folha da costa, saião, folha grossa, paratudo, erva grossa.
Nome Científico: Kalanchoe brasilienses.




Òdúndún é uma folha de origem brasileira, encontrada praticamente em todo o território nacional. Mas hoje, também já encontramos Òdúndún (Folha da costa) em diversas áreas tropicais de outros continentes.

Muito confundida com Àbámodá (Folha da fortuna), o Òdúndún é uma folha (ewé) Èrò (de apaziguamento), feminina, ligada ao elemento água e a todas as divindades da Criação – Òrìsà funfun.
É utilizada tanto no Brasil, quanto na África (Nigéria), onde é conhecida pelo nome yorùbá de Elétí, em iniciações (Igbèrè) e em medicinas (Oògùn).

No Brasil, nas Casas de Candomblé da Nação Kétu, a mesma é uma das principais folhas utilizadas no Àgbo (composição de elementos vegetais, animais e minerais, utilizado para a sacralização do corpo do iniciado e seus pertences ritualísticos). É também utilizada em oferendas à Obàtálá (Òsàlá) e no sacrifício de animais como o Pombo (Eyelé), a Galinha de angola (Etù) e o Caramujo (Ìgbín).
Utiliza-se também o Òdúndún, junto a outras ervas, para “lavar as vistas” e os búzios (Owó eyo), dos sacerdotes que utilizam-se do oráculo Mérìndínlógún Ifá (Jogo de Búzios).
 
 

Na Nigéria, o Òdúndún é uma das folhas que compõe um omièrò utilizado pelos Bàbálawo e Iniciados em Ifá (Awo’fá) para lavarem suas vistas antes de abrirem Igbádù (a Cabaça da Deusa Òdù), para que assim possam cultuar a mesma, sem maiores danos para suas vistas e vidas. Também é utilizada juntamente a outras folhas, em um àgbo específico para serem lavados os símbolos ritualísticos de Obàtálá e sua esposa Yèmowó, após os sacrifícios.

Na Medicina e na Fitoterapia, o Saião (Òdúndún) é utilizado no combate a doenças pulmonares, porém, seu consumo excessivo gera pleurisia (inflamação das pleuras pulmonares - Empiema). O saião é cicatrizante, alivia a dor e ajuda a de-sinchar áreas magoadas, machucadas. Aquecida em azeite de oliva, ajuda furúnculos virem a furo. Seu sumo quando ingerido, ajuda no combate a úlceras e distúrbios estomacais.

Òdúndún é uma folha que acalma, apazigua, traz saúde, paz e vida longa – Àláàfíà. Assim como diz uma de suas cantigas:


Òdúndún Bàbá T’èrò‘lè
Òdúndún Bàbá T’èrò‘lè
Bàbá T’èrò’lè
Imalè T’érò’lè
Òdúndún Bàbá T’èrò‘lè

Òdúndún, Pai, espalhe a calma sobre a terra.
Òdúndún, Pai, espalhe a calma sobre a terra.
Pai espalhe a calma sobre a terra.
Divindade espalhe a calma sobre a terra.
Òdúndún, Pai, espalhe a calma sobre a terra.
 
 
 
Os candomblé de tradução yoruba tem como título candomblé de nação keto essas casas de axé tem o título de candomblé Keto de tradição jeje nagô trazidos do Benin e Nigéria.
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Babalorixá Oríosè


Asé!
 

Tradição do candomblé yoruba



Olá meus Irmãos! Bora pra mais um Papo de Terreiro? E o assunto agora é:

Tradição do candomblé yoruba

Por.Alef de oxaguian


Aqui abaixo descrevo um pouco sobre a tradição do candomblé keto da Bahia.

Tudo começou por princípio do ceculo xix quando aqui no brasil chegaram princesas africanas trazidas de reinos yorubas como keto oyo abeokuta osogbo ile ife e save trazendo com elas suas culturas africanas de terras yorubas.

Com elas vinheram os cultos dos orixás também com elas vinheram inúmeros sacerdotes também yorubas que ajudou com a construção do candomblé no Brasil.

O nome delas são iya adeta iya akala iya nasso e os sacerdotes foram tio bamboxe obitiko, babá assika e muitos outros que seus nomes se perderam com o tempo.

A princípio o culto aos orixás era extremamente proibido a ponto de acontecer prisões torturas e até mortes causadas pelas autoridades daquela época pois a única religião aceita na época era o catolicismo a ponto de tratar a religião yoruba como culto pagão adoração a satã. 

Eram condenados a prisão aqueles que fossem pegos cultuando orixás. 

Daí então os negros se juntaram e fizeram confrarias mor.

E os de origem yorubas se reuniam aos fundos da igreja da barraquinha para faser seus cultos voltados para os deuses yorubas sicretisando com os deuses católicos pois fingiram cultuar Santos católicos daí surgiu a forma de expressão qual o seu Santo?dando origem ao sincretismo religioso ex.Santa Bárbara é iansan são Gerônimo é xango. 

Logo as princesas foram despejadas da barraquinha pois tinham que faser a reforma daquele bairro .

Quando reunidas na barraquinha chamavam aquele espaço de ile axé ayra  intile depois foram transferidos para a atual Av.Vasco da Gama no engenho Velho da federação em Salvador Bahia Brasil e lá recebeu o nome de ile axé iya nasso oka dando principiu ao primeiro terreiro de candomblé de nação keto do Brasil. 

Iya nasso ates de ir embora novamente para conviver em sua terra de origem e lá  veio a falecer deixando em seu lugar a sua escrava alforriada Marcelina da Silva oba tossi que tinha duas filhas chamadas Maria Júlia Conceição e Maria Júlia Figueiredo e daí deu - se continuidade ao candomblé da casa Branca do engenho Velho da federação. 

Neste terreiro somente são  iniciadas mulheres os homes recebem o cargo de ogam não a se quer um homem iniciado como elegun naquela casa de culto aos orixás. 

Lista de sacerdotisas que ocuparam o cargo de iyalorixa daquela casa.

Foram elas:

Iya nasso
Iya oba tossi
Iya Maria Júlia Figueiredo
Iya ursulina Figueiredo
Iya maximiana Maria Conceição
Iya Maria Deolinda dos Santos
Iya Marieta Vitória Cardoso recentemente desaparecida
Iya altamira Cecília dos Santos.

Esta casa e a matriarca de todas as outras de tradição keto ligada extremamente a esta. 

Ex.ouve uma disputa após o falecimento de Marcelina oba tossi.

Esta disputa foi feita entre Maria Júlia conceição e Maria Júlia Figueiredo para ver quem iria permanecer iyalorixa da casa Branca a casa ficou para a substituta legal que tinha o cargo de iyakekere Maria Júlia Figueiredo então afastou - se Maria Júlia Conceição  com demais membros desse axé e também no engenho Velho fundou o terreiro do gantois o ile omi ase ya masse casa da famosa mãe menininha do gantois deixando em seu lugar a iyalorixa mãe pucheria. 

Esta casa somente assume o posto de iya lorixa descendentes direta de Maria Júlia Conceição.
Lista de sacerdotisas do gantois:

Maria Júlia Conceição.
Mãe pulcheria
Maria da Glória Nazaré
Mãe menininha do gantois
Mãe Cleuza Millet
Mãe Carmem. 

Essa casa também deu origem a muitas outras também quebrando o tabu de não iniciar homens.

Também outra casa foi fundada após outra discussão a qual mãe aninha obabii iniciada por oba tossi afastou - se e fundou o ile axé opo afonja em 1908 no Rio de Janeiro e em 1910 na Bahia.

Lista de sacerdotisa do ile axé opo afonja:

Mãe aninha oba bii
Mãe bada de oxalá
Mãe senhora de oxum
Mãe ondina

E a atual iya lorixa mãe Estela de Oxóssi. 

Os candomblé de tradução yoruba tem como título candomblé de nação keto essas casas de axé tem o título de candomblé Keto de tradição jeje nagô trazidos do Benin e Nigéria.

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Babalorixá Oríosè


Asé!


SEBRAE e RÁDIO PAPO DE TERREIRO iniciam uma nova parceria com uma série educativa.



SEBRAE e RÁDIO PAPO DE TERREIRO.
Iniciam uma nova parceria com uma série educativa.
A Rádio Papo de Terreiro estando sempre á frente em busca de trazer o melhor conteúdo ao Povo de Orixá, inicia uma parceria com o SEBRAE e traz para você o PAPO DE ESPECIALISTA
Papo de Especialistas é um projeto multimídia que traz informação e conhecimento em gestão para a pequena empresa, pelo rádio e pela internet.
Através do Blog papodeespecialistas.sebrae.com.br o ouvinte de sua emissora terá acesso a uma plataforma interativa de informação, consulta e troca de ideias. E poderá ouvir os programas da série, quantas vezes quiser.
Diariamente o Blog publica textos complementares aos programas da rádio e podcasts exclusivos.
O Blog é também um canal de comunicação direta com consultores do Sebrae, especialistas em gestão empresarial. O ouvinte terá oportunidade de escrever suas dúvidas diretamente aos Consultores e receber a orientação ao seu problema.
“Sabe o que que eu mais gosto nessa série do Sebrae “Papo de Especialistas”? É que o papo não é engessado não. A conversa do Cazé com um consultor especializado em gestão avançada faz a gente pensar em vários aspectos da gestão na pequena
empresa. E não fica no genérico, porque depois o ouvinte pode pedir mais orientações pela internet. Se eu fosse você, não perdia o “Papo de Especialistas” que a gente veicula de segunda a sexta aqui na RÁDIO PAPO DE TERREIRO!

Os programas serão exibidos de segunda à sexta, de manhã as 10:00hrs; com reprise ás 15:00hrs e as 20:00hrs. Não Perca!
Rádio Papo de Terreiro - Aqui se cria, Não se copia!


Terreiros do Brasil no processo histórico da tradição e da modernidade





Olá meus Irmãos! Bora pra mais um Papo de Terreiro? E o assunto agora é:
 
Terreiros do Brasil no processo histórico da tradição e da modernidade: 
a sociedade brasileira, os anagonus, suas crenças e costumes. 


por: Celso Ricardo Monteiro

As religiões de matrizes africanas trazidas para o Brasil em meio ao processo escravocrata trouxeram contigo um largo histórico cultural, vivenciado pelos diversos povos que em comum, possuem o berço. No que tange os seguidores de Orixá, o bem estar social está associado ao como os indivíduos se posicionam neste mundo em que eles vivem, de acordo com os dogmas e cultura de suas tradições. Para tanto, é comum o uso de oferendas ritualísticas, usadas para garantir o equilíbrio do homem e da sociedade humana, além do bem estar social, a fertilidade, sustentabilidade política e outros avanços da sociedade africana, que garantiriam mais tarde, melhor qualidade de vida para tais povos na terra mãe ou em espaços outros, para os quais foram sequestrados.

Quando falamos de tal seguimento, acredita a sociedade brasileira que estamos nos referindo apenas à uma fusão de comunidades-nações e civilizações africanas que se transformaram no tal Candomblé brasileiro praticado no sudeste do Brasil. Tamanho engano, permite que estudos sejam feitos ao longo dos anos e, comprove que aqui há a existência de inúmeras religiões oriundas da África e, esta diversidade cultural religiosa, aqui existente aparece na historia do Brasil como prova, de como tais civilizações foram extraídas de sua terra de origem e mantida noutros territórios. Mais que isso, o candomblé e as tradições co-irmãs não são apenas religiões, mas sim, universos coletivos, onde a vivência pauta-se pelo conjunto de códigos e valores que orientam a vida das pessoas, a partir de seus ancestrais. Aqui, a fé é um entre os vários elementos que determinam o bom andamento e a conduta dos sujeitos.

A crendice e imposição dos senhores feudais imperaram e, agruparam diferentes povos num único espaço, sem contudo considerar a diversidade de hábitos e costumes tradicionais, mais tarde alterados pelo processo histórico. Mais isso não foi suficiente para eliminar a civilização dos “anagonus.”

Para o grupo dominante um problema: conciliar dialetos, culturas, valores e outras diferenças, extraídas do Golfo da Guiné, Sul da África, Dahomé, Benin, Ijebú, Congo, Cabila, Ile-Ifé e tantas outras regiões africanas, cujo reinado acontecia a partir de sistemas diferenciados, fato este, que deveria no caso da cidade vassala de Oyó, considerar a Dinastia Monarca da família real, onde o Aláfin e outros homens daquela cidade, utilizavam-se do casamento simultâneo, considerado crime no Brasil. Como Reis, Rainhas, Sacerdotes e demais lideranças, acompanhados de seus pares, foram seqüestrados e tratados como “lixo” não foi considerando importante é óbvio, em momento algum da história, as especificidades de tais povos, nem tão pouco sua fé ou crença e cultura, que como querem alguns “gurus da academia” hoje estão necessariamente ligados a um sistema religioso. Um exemplo é o culto aos ancestrais, proferidos em toda África, com formato, rituais, valores e motivos diferenciados, não afirmando um consenso obrigatório, porém todos com fundamentação, origem e jeito de ser.

Mesmo que com alguns conflitos aqui reproduzidos, Iyá Kalá, Iyá Adetá e Iyá Nassô reproduziram com excelência o culto a seus antepassados em solo brasileiro, assim foi também com o culto as demais divindades do povo negro-africano.

Para nós pesquisadores de África, isto significa uma das maiores vitórias daquele povo, que conseguiram ao longo dos tempos, assegurar e noutro momento histórico, fazer ressurgir o que sua terra de origem tem de mais forte e real, pois pouco a pouco, as divindades da caça, da pesca, da agricultura, da fertilidade, etc, foram ganhando espaço no território brasileiro, mesmo com a ocorrência de mortes significativas e como na África, o Culto de Orixá foi se fortalecendo familiarmente através da oralidade tão usado por seus clãs, com toda a sua adversidade.



Com o tempo, o sincretismo como metodologia utilizada para “salvação de tais cultos ritualísticos”, foi popularizando e aproximando tais religiões da população ou vice versa. A auto-identidade foi se afirmando junto á chamada consciência negra e tanto às voltas da Costa Marítima, como nos centros urbanos, as religiões de matrizes africanas foram fincando raízes e escrevendo sua historia, apoiadas em suas mitologias, tecnologias, culturas e ritualísticas.

E como não podia deixar de ser, o equilíbrio foi se instaurando entre os diferentes povos, resultado este do autocuidado individual, no que se considera a sua religação com divindades inúmeras, através dos métodos hoje chamados por alguns de “tradicionistas”.

O respeito ao outro, a formação cultural a partir dos valores étnicos, a comunhão e tantos outros valores, foram fortificando a essência humana, que o povo iorubá entre outros, mantém através de suas práticas religiosas, ainda na nova era. O auto respeito, o autocuidado, o diálogo, a hierarquia e posteriormente a reforma tradicionalista (voluntária), juntou estas tradições à realidade burguesa-ocidental, e implementada no Brasil de costumes indígenas. Isto fortificou a necessidade do cuidado para com o outro, lição, mais tarde, reaprendida com a epidemia de Aids, que trazia nos anos oitenta, a tarefa de dar atenção básica a pessoas acometidas por um mal que ninguém conhecia.

No Brasil atual o quadro pede formulação e implementação de políticas públicas, levando-nos para o diálogo com uma elite, que não conhecia nada disso no início do século vinte, mas que agora, ocupa espaços consagrados na comunidade internacional.

Esta mistura étnico-cultural que permite também a presença do cristianismo (imposto), deu vez à reforma das práticas, das disciplinas, do convívio e do diálogo pacífico com os diferentes, hoje reproduzidos nas atividades inter-religiosas que tanto colaboramos ou protagonizamos. Essa se transformou em uma das questões mais presentes entre o povo de santo, o que significa na prática, muito debate e ausência de consenso, dada as diferenças políticas, geracionais e culturais que norteiam estas relações.

Novos tempos foram ganhando suas vezes. Tempos de Procópio, Aninha, Mãe Menininha do Gantóis, Moriçoca, Goméia, Zé de Obakosso, Gaiaku Luiza, Luiz de Jágun, Estela Odekaiyode, Caio Aranha Obainan e tantos outros ícones, que acrescentaram e muito na historia do povo afro-brasileiro, considerando sua qualidade de vida e desenvolvimento humano. Mas, agora é a vez da juventude que compõem este universo.

Ao processo contínuo de readaptação, agora, é a globalização, “filha mais nova” do sistema, no Brasil pós-colônia e, tantos outros fatos ou momentos políticos, que ameaçam a tradição e as religiões hoje afro-brasileiras, incentivando a incorporação de novas praticas que podem ou não, a depender do ponto de vista, ferir a essência ou afetar a eficácia de segredos e espaços sagrados destes povos, configurando aí um novo desafio aos novos e antigos atores, que simultaneamente, tentam driblar a ingerência dos opositores, diante novamente da necessidade de uma estratégia de salvação, agora ainda mais eficaz, mas muito próximo do mercantilismo, individualismo e brigas por posse ou poder.

É como se as mesmas diferenças existentes na África (sociais, políticas por vezes partidárias, climáticas, regionais, revolucionárias, etc…), fossem uma constante também no Brasil, vistas por muitos como algo responsável pela transformação de tais religiões, hoje associadas á nova geração de sacerdotes e sacerdotisas, que deixam para trás, através da morte de seus genitores e mestres, algumas práticas e conhecimentos, dando vez a uma nova forma de se religar á Deus, nem sempre compreendida pelos mais antigos, mas interpretada como processo natural do novo mundo ocidental, que deve reciclar e democratizar tudo, sempre. Ainda assim, existem os grupos conservadores mesmo que composto por alguns jovens, que não compartilham das mudanças na totalidade.

Vale também a informação que segue: os anos oitenta e noventa, permitiram uma outra readaptação destes povos, que deixavam para traz o regime hierárquico ditatorial, praticado pelos mais velhos e, passam a dar oportunidades para um sistema facilitador nas articulações internas dos espaços religiosos, permitindo que o diálogo sobre relações humanas fosse ampliado e alguns importantes tópicos, como por exemplo: a sexualidade, também entrasse para as discussões. Com isto, a igualdade de tratamento entre sacerdotes de diferentes gerações, bem como a abertura de tais religiões, para a realização de determinados estudos e registros de suas histórias e culturas, passa á ser fato real, que considera o avanço das religiões de matrizes africanas nas grandes cidades pautado pela notável vinda dos africanos para o Brasil nos anos 90; a influência do inglês e do francês, no dialeto iorubá e mais tarde, nos hábitos afro – descendentes que incorporam por exemplo, o uso da tecnologia alheia; o respeito as relações de gênero e orientação sexual e ao como este processo se dá no espaço sagrado e nas demais partes da civilização ocidental cristã ou cristianizada, além da ampliação dos espaços da comunidade Terreiro na América Latina como um todo; a Santeria, hoje, objeto de estudos de acadêmicos e religiosos brasileiros e franceses, além de perpetuação do culto de Orúnmilá – Ifá por meio das religiões Afro-americanas, sobretudo em Chicago, permitindo uma maior e melhor troca de experiências e conhecimento sobre tudo entre as lideranças de mesma etnia, o que viria a representar uma descentralização do conhecimento geral, tão almejado por tantos e, posteriormente garantir uma outra relação do individuo com seus pares e a sociedade ampliada.

Esses dados são importantes para se pensar nos avanços culturais das civilizações africanas e, mais tarde no crescimento de seus descendentes nascidos no Brasil, sobretudo o povo de Terreiro. Mas e agora, o que fazer?


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Fonte: revista africas
Foto: Casa de Oxumarê

APETRECHOS RITUALÍSTICOS: O XAORÔ


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APETRECHOS RITUALÍSTICOS: O XAORÔ




Xaorô – Tornozeleira de palha da costa usada durante o recolhimento para o processo de iniciação... pois bem, respondido? acredito que não, podemos espremer mais um pouco pra ver se dá um suco né? vamos lá então...

O Xaorô (Saorò) é primordialmente usado em honra a Iemanjá, a mãe de todas as cabeças, e a Obaluaye. 

Sendo este um dos símbolos da iniciação, serve para que os movimentos do iyawò (iaô) sejam seguidos, facilitando sua localização pela mãe criadeira.

Conta um Itan (lenda) que iemanjá foi quem confeccionou o xaorô e o colocou em Obaluaye, seu filho adotivo, para poder encontrá-lo e assim, cuidar dos seus ferimentos:

"Obaluaye sabendo-se leproso e que, por isto causava nojo e medo a todos que dele se aproximavam, procurava sempre se esconder, dando muito trabalho a IEMANJÁ para encontra-lo.

IEMANJÁ resolveu prender nas vestes de Obaluaye, diversos Xaorôs, que facilitava a sua localização. E assi poder acompanha-lo e cuidar de suas feridas".

O Xaorô, assim como contra-egum, umbigueira e o mocã só podem ser utilizados após serem sacralizados com banhos de folhas frescas e outros elementos.

Composto por um ou dois guizos, o xaorô é preso com fios trançados de palha da costa no tornozelo do iyawò. É colocado na perna esquerda, se o orixá for masculino e na perna direita, se o orixá for feminino. Em alguns axés não se coloca xaorô, usa-se uma pulseira, um idé, na cor preferida do orixá da pessoa, sem distinção de sexo da divindade. Em outras casas, se o orixá for masculino, usa-se o xaorô no tornozelo esquerdo, e se o orixá for feminino, é colocado um idé no tornozelo direito.

Este e outros objetos têm como objetivo resguardar o corpo do iyawo na sua iniciação, sendo o xaorô o responsável pela proteção dos membros inferiores, rechaçando toda a negatividade.

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O Ritual da Kura ou Fechamento de Corpo

 

 

 

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O ritual da Kura ou fechamento de corpo

 

 

 

 

O ritual da Kura ou fechamento de corpo praticado em muitos candomblés na Sexta Feira da Paixão, que é uma data que os católicos dedicam à memória da crucificação de Jesus Cristo, tem origem nas mais antigas práticas bantos de calundus (formações religiosas anteriores à formação do candomblé modelado pelo Ketu na Bahia).


A “cura” é uma denominação para a “cruza ou cruz”, sinal recebido dos mercadores e traficantes de escravos para marcá-lo e distinguí-lo dentro de um grande número de indivíduos, principalmente assim agiam os mercadores e traficantes espanhóis, portugueses e brasileiros (muitos referidos ao longo da História como sendo portugueses). Tal símbolo era marcado nos braços, peito, costas dos escravos de forma a marcá-lo com sendo já batizados e portanto que já haviam recebido o nome pelo qual deviam ser conhecidos doravante, só então depois eram conduzidos ao Brasil em navios negreiros. Tal flagelo atendia a grandes encomendas de escravos principalmente para o árduo trabalho da lavoura no Ciclo da cana de açúcar.

Em fongbè (Língua Fon) a cruz é denominada kluzú (pronunciando-se curuzú, que dá nome a uma localidade em Salvador, Bahia). Para o indivíduo banto de forma geral e principalmente no Brasil ficou entendida como KURA. Também no Brasil muitos índios entenderam o símbolo da cruz como curuçá ou cruçá a partir dos Jesuítas, passando assim a denominá-la.

O segredo do fechamento de corpo no ritual da kura está no que lhe é passado depois da marcação do sinal e o que é rezado naquele momento, diferindo os ingredientes passados e ingeridos e as rezas de acordo com o Candomblé.

Durante o primeiro processo de iniciação, são diversos os rituais que têm lugar, e pelos quais os Yawôs têm que passar para poderem receber o seu Orisá de forma íntegra.
São tomados diversos cuidados para que o iniciado possa de fato, dali para a frente estar munido do conhecimento necessário, mas também de defesas necessárias, uma vez que vai nascer para a sua “nova vida”.
Não se trata só de munir e proteger o espírito das defesas necessárias, mas também o seu corpo físico e nesse âmbito, são feitas as chamadas Kuras.

As Curas são incisões feitas no corpo do Yawô, que por um lado representam o símbolo de cada tribo, como o símbolo de cada Ilê (casa de Candomblé), mas têm o objetivo de fechar o corpo do Yawô, protegendo-o de todo o tipo de influência negativas.
Para isso são feitas as incisões (o que chamamos de abrir) e nessas incisões é colocado o Atim (pó) de defesa para aquele Yawô (iniciado). O Atim tem uma composição base de diversas plantas e substâncias, mas o Atim utilizado para as Kuras, contêm também as ervas do Orisá daquele Yawô em quem ele vai ser aplicado.

Sabemos que em algumas casas a Kura pode também ser tomada como infusão de ervas, porém na maioria das Casas de Candomblé, as Kuras, que são de origem Africana, são feitas como incisões ou cortes e nesse cortes são colocados pequenos punhados de Atim, para que esse Atim penetre no corpo e o proteja de males exteriores enviados contra a pessoa.

Normalmente, as Kuras são feitas no peito, dos dois lados, nas costas, também dos dois lados e nos braços, evitando assim que de frente, de costas ou no manuseio de qualquer coisa algo negativo possa entrar no corpo do Yawô.
É comum também fazer-se na sola dos pés para evitar que o pisar de algo negativo possa interferir com o Yawô, havendo ainda, alguns zeladores que fazem uma Kura na língua dos seus Yawôs, para que os mesmos não comam comidas “trabalhadas” e caso as comam, para que essas comidas não lhe façam mal.

Existem muitos sacerdotes que deixaram de seguir a tradição citada anteriormente, no entanto passam uma combinação de folhas no corpo do iniciado, como se estivessem de fato fazendo as pequenas incisões. Diz-se que o resultado é o mesmo.

Quando o Candomblé foi organizado aqui no Brasil, ficou estabelecido que os dias de óssé wè mó ( ato de limpar e ofertar alimentos aos Orisás) teria que se adaptar ao sistema ocidental de sete dias pois, na África, a semana Iorubá era composta de quatro dias devido a crença de que o mundo havia sido criado neste espaço de tempo.
Todas as casas de Candomblé dedicam as sextas-feiras ao Orisá da paz, Senhor da criação, considerado pai de todos os outros Orisás. É comum neste dia todos os adeptos do Candomblé usarem o branco, a cor deste Orisá. Como descreve esta saudação: "Òrìsànlá Olúwa èwù ni funfun" (O Grande Òrisá dono do manto branco).

A sexta-feira santa é uma data Cristã que lembra o sofrimento de Jesus Cristo. Para o Candomblé este dia continua sendo consagrado a Osalá.
 
Nos Candomblés, na sexta-feira santa é feito o ritual da "Kura" com o objetivo de proteger-lhes contra doenças, roubos e todos os tipos de negatividades, daí ser chamada de "fechamento de corpo".
 
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fonte: Os mistérios da áfrica
 

HIERARQUIA E PODER NO TERREIRO



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HIERARQUIA E PODER NO TERREIRO

O indivíduo que começa a freqüentar a casa e ainda não é iniciado chama-se abiã. Este acompanha as festas, freqüenta a casa, pode passar por banhos de folha e alguns rituais mais simples, mas a ele não é revelado nenhum segredo. O abiã não entra no quarto-de-santo e nem no runcó (camarinha); é como se o mesmo ainda não existisse para o candomblé. “A Abiã ainda não é filha-de-santo. É uma aspirante que ainda se encontra no estágio de quem já fez uma pequena obrigação, que freqüenta o terreiro e participa de certas cerimônias rituais. A abiã pode ou não tornar-se uma Iyawô”
(SIQUEIRA, 1998, p. 197).

Prandi (1991, p. 164) faz uma síntese para explicar a distinção entre os iniciados que manifestam orixá e aqueles que não têm essa possibilidade: Há duas classes de sacerdotes no candomblé, os que rodam no santo, viram no  santo, entram em transe; e os que não. Os primeiros são os chamados rodantes e terão que passar pelo rito de feitura, fixação do orixá na cabeça (ori) e no assentamento, o ibá-orixá, que é o altar particular deste orixá pessoal [...]. Estes rodantes, uma vez “feitos”, formam a classe dos iaôs, os quais, após a obrigação do sétimo ano de iniciação, atingem o grau de ebômi, passando a fazer parte do alto clero, recebendo cargos na hierarquia, ao lado do pai ou da mãe-de-santo, a autoridade suprema.

Na base da escala hierárquica estão os iaôs. Estes são os filhos-de-santo, que podem ser homens ou mulheres, os quais se iniciam a um determinado orixá por meio da feitura até o fechamento do ciclo iniciático, no momento da obrigação de sete anos. A feitura é o início do processo de formação do iaô, “considera-se como fundamental saber observar com respeito, e sem fazer perguntas; esta é a base de formação de uma Iyawô”. (Siqueira, 1998, p. 200).

Segundo Lima (2003, p. 73) “a palavra iaô provém do iorubá iyawo (iauô), que significa a esposa mais nova nos sistemas familiares poligínicos dos iorubas”. Nota-se, em Prandi (2001, p. 54), que “as iaôs (ou os iaôs, pois há muito a palavra iaô perdeu no candomblé a conotação de esposa), os jovens iniciados, enfim, só fazem obedecer, usando símbolos e cultivando gestos e posturas que denotam a sua inferioridade hierárquica”.



Os iaôs representam a base do trabalho em uma casa de candomblé: varrem o chão, limpam a casa, acendem o fogo, carregam água, decoram o barracão, se houver necessidade podem fazer a comida, tanto ritual como a alimentação. Ainda não têm poder de decidir, somente obedecem às autoridades da casa.

Outra categoria é formada pelos ebômis, iniciados que chegaram ao fim do seu período de iniciação que dura sete anos; foram iaôs e pagaram a obrigação de sete. Em yorubá egbon mi” quer dizer meu irmão mais velho. O ebômi possui certo prestígio dentro da casa; é dentre eles que o pai ou mãe-de-santo escolhe a quem dará o direito de também ser um pai ou mãe de santo e abrir sua própria casa de candomblé ou outorga-lhes um cargo executivo, no sentido de desempenhar uma função específica, na organização. As ebômins elevadas a essas categorias executivas partilham, de certa maneira, da autoridade da mãe do terreiro, por seu consentimento e sob a sua constante supervisão. É um privilégio da liderança delegar poderes e fazer-se representar (LIMA, 2003, p. 81).

Existe uma categoria de iniciados que não manifestam o orixá, ou na linguagem de terreiro, não viram no santo. Os homens são chamados de Ogãs e as mulheres de Iyarobás.



Há vários tipos de ogãs, cada um com atribuições delimitadas: os alabês, que são os músicos que tocam os atabaques, instrumentos sagrados que propiciam a descida dos orixás ao mundo físico; o axogum é aquele que tem autoridade de utilizar a faca nos sacrifícios rituais; curujebó é aquele que leva os ebós que precisam ser arriados nas ruas ou fora da casa do candomblé; o pejigã é quem cuida da organização dos assentamentos de orixá, o elemaxó se encarrega dos objetos e do culto a Oxaguian. As Iyarobás também se dividem por funções; Iyateni cuida dos iaôs quando entram em transe, vestem e acompanham os orixás no salão na hora em que dançam; e a Iyabassê faz a comida dos orixás ou, ainda, pode ser encarregada de cuidar de um orixá em específico, ajudar o líder do terreiro na preparação dos rituais.

As Iyarobás também podem ser escolhidas pelo Babá para receberem títulos hierárquicos que venham a lhes constituir mais autoridade e poder no terreiro, podendo chegar a Iyakekerê – a mãe pequena da casa – ou Iyalaxé, a mãe do axé, estando abaixo apenas do pai ou mãe-de-santo. No Ilê Odé, a Iyakekerê é uma Iyarobá, iniciada ao orixá Oxum; foi indicada pelo orixá do pai-de-santo para esse posto. Esse cargo só deixará de ser ocupado pela mesma em caso de falecimento, ou seja, é um cargo vitalício como também o são: Babalorixá, Babalaxé (pai do axé), Iyaegbé (mãe da sociedade). Ogãs/Iyarobás têm seu orixá pessoal, mas nunca o manifestarão, ou seja, nunca entrarão em transe.

O ogã, em alguns trabalhos, aparece como uma figura que tinha certo prestígio social e podia contribuir para o bom andamento das atividades do candomblé, pois “as incursões policiais ocorriam tão inesperadamente e podiam ser tão violentas que era vital para os adeptos do candomblé ter amigos em muitos lugares” (LANDES, 2002, p. 74). A presença de ogãs jornalistas, intelectuais ou até políticos serviam para intimidar as invasões policiais. A presença dos ogãs, ainda nos fins do século XIX, foi assim comentada.

O ougan ou os ougans, porque cada confraria de um santo pode ter o seu ougan. São os responsáveis e protetores do candomblé. A perseguição de que eram alvo os candomblés e a má fama em que são tidos os feiticeiros, tornavam uma necessidade a procura de protetores fortes e poderosos que garantissem a tolerância da polícia [...] Os ougans têm obrigações limitadas e direitos muito amplos. Além da proteção dispensada devem fazer ao seu santo presentes de animais para as festas e sacrifícios. Têm direitos a cumprimentos especiais dos filhos de santo, a serem ouvidos nas deliberações do terreiro, a saírem todos os santos e o terreiro em seu favor, no caso que estejam ameaçados de alguma ofensa ou desgraça, etc. (RODRIGUES, 2005, p. 49).

Braga (1999) estudou a presença do ogã nos candomblés de Salvador. Ele lembra que, na época das invasões policiais aos terreiros, os ogãs desempenhavam o papel fundamental de negociação e mediação de conflitos entre os terreiros e o poder público ou sociedade. Em certa época, os mesmos foram escolhidos por conta de seu prestígio
e condição social para serem protetores dos terreiros. Embora ainda ocorra essa prática, isso não significa dizer que todos os ogãs são brancos ou possuam certa notoriedade na sociedade. Há muitos deles escolhidos também dentro do grupo social interno, como parentes do Babá, amigos dos filhos-de-santo ou até mesmo vizinhos. É freqüente a escolha do ogã que é membro da família biológica do líder religioso, sendo comum iniciação ainda quando criança. Também pode haver um caráter político para a escolha do ogã por parte do pai ou mãe-de-santo, a esse respeito Braga esclarece: A compreensão que se tem é de que parece existir uma necessidade de o líder se cercar de algumas pessoas de confiança a quem atribui, além das funções normais do cargo, outras tarefas do dia-a-dia que exigem grau maior de confiabilidade, como cuidar das economias pessoais e resolver outros tantos problemas específicos da comunidade religiosa. Alguns ogãs se fazem merecedores da confiança do pai ou mãe-de-santo, tornam-se confidentes e participam da vida íntima da comunidade religiosa, despertando o ciúme de outros que não desfrutam da mesma situação (BRAGA, 1999, p. 47).

No entanto, deve-se esclarecer, mesmo que a integração do ogã na estrutura funcional do terreiro tenha se dado, inicialmente, porque os líderes religiosos tinham interesse na participação de pessoas bem colocadas na sociedade, para defenderem o candomblé das ameaças e preconceitos da sociedade, isso não isentou esses participantes de suas obrigações rituais e de seu papel sagrado dentro do terreiro. O ogã tem status de autoridade, pode ocupar cargos de grande prestígio e poder na hierarquia. Prova dessa afirmação é o Terreiro Ilê Odé, casa onde o Babalaxé, ou seja, o pai do axé, da forçamotriz do culto – Rogério da Hora – é um ogã iniciado a Oxaguian e que, também, ocupou o cargo de Elemaxó, o responsável pelo culto e pelos objetos sagrados do orixá Oxalá o grande pai. O ogã Cristiano Aguiar, de Xangô Ogodô, é portador do título (oyê) de Sobaloju e, também, é responsável pela organização do culto a Xangô na casa do candomblé, bem como cuida dos objetos sagrados que pertencem a esse orixá e participa da organização de sua festa.

Na mais alta escala hierárquica estão os Babalorixás e Iyalorixás. Para tornar-se um Babá ou Iyá é necessário, um dia, ter sido um iaô. Só os filhos-de-santo rodantes, ou seja, aqueles que recebem o orixá, podem vir a ocupar essa posição, pois, “sem santo que se manifeste em transe, não há poder, autoridade, disciplina e, sobretudo, investidura no cargo de iniciador” (PRANDI, 1991, p. 175) Destarte, os pais e mães-de-santo viveram como iaôs e participaram por longo tempo das cerimônias rituais, antes que viessem a se tornar líderes religiosos. Segundo uma expressão do próprio povo de santo, “é preciso ter lodo na unha” para ocupar esse cargo; isso significa dizer que é necessário muito trabalho até chegar lá.



O líder do axé exerce autoridade sobre todos os membros da hierarquia. Ninguém faz nada sem que antes informe o que pretende fazer. Todas as vezes que alguém for levar uma oferenda para ser colocado no peji, levar a comida na casa de Exu ou qualquer outra atividade é necessário, antes, solicitar ao pai que coloque sua mão sobre a mesma.

Ao tocá-la, simbolicamente, se está concedendo poder para que a pessoa possa entregar aos orixás a oferenda.
É a mãe-de-santo, além disso, quem dirige efetivamente toda atividade da casa: as cerimônias públicas das grandes festas dos orixás maiores dos terreiros e os ritos privados que só os filhos da casa participam; o ossé semanal dos santos; a disciplina dos filhos e a economia do terreiro; os mecanismos de promoção e de mobilidade intragrupal e a assistência espiritual e material à imensa variedade de situações de crise e de necessidades de todos os seus filhos e suas famílias (LIMA, 2003, p. 136).

Na percepção de Lima, a autoridade da mãe se renova todos os dias no seu contato com os orixás, mas, nem por isso, é exercida sem que haja conflitos ou tensões. Mais uma vez, a dimensão política da organização faz-se manifestar; só o poder da divindade não é suficiente para manter a ordem. Além de bons líderes religiosos, os pais e mães precisam desenvolver habilidades de fazer alianças, cercar-se de pessoas que possam facilitar e/ou legitimar sua gestão, além de ter habilidade para se relacionar e fazer-se respeitar, ou seja, é necessário criar uma política organizacional que facilite a aceitação de sua autoridade.

Morgan (1996) sugere, como critério para análise da política organizacional, o foco nas relações entre interesses, conflito e poder: Ao se falar a respeito de interesses, fala-se sobre um conjunto complexo de predisposições que envolvem objetivos, valores, desejos, expectativas e outras orientações e inclinações que levam a pessoa a agir em uma e não em outra direção” (p. 153).

Essa proposição é válida também no candomblé. Observa-se no contato com o povo-de-santo que as pessoas vivem em dois universos paralelos: a vida no santo e a vida cotidiana do lar, do trabalho e da família. Ou seja, mesmo submetendo-se a viver uma realidade de restrições e obediência no candomblé, estando no terreiro ou fora dele, não é possível despir-se das concepções e interesses da vida material. Portanto, pessoas que possuem diferentes modos de vida e formas de perceber o mundo, convivendo num ambiente autoritário, hierárquico e cheio de mistérios como o mundo do terreiro, acabam, em algum momento, manifestando suas diferenças e conflitos de interesse.

O conflito aparece sempre que os interesses colidem. A reação natural ao conflito dentro do contexto organizacional é vê-lo comumente como uma força disfuncional que pode ser atribuída a um conjunto de circunstâncias ou causas lamentáveis. [...] Pode ser explícito ou implícito. Qualquer que seja a razão e qualquer que seja a forma que assuma, a sua origem reside em algum tipo de divergência de interesses percebidos ou reais (MORGAN, 1996, p. 160).

O desrespeito à hierarquia ou sua supressão representa um constante ponto de conflito na casa-de-santo, por exemplo: não pedir a bênção aos mais velhos, não fazer o cumprimento diferenciado às maiores autoridades da casa ou passar à frente de alguém que tenham maior idade de iniciação em alguma obrigação. No início do artigo,
quando se tratou da origem dos terreiros, foi citado sucintamente um exemplo crítico de conflito no candomblé: a fundação do Gantois, em 1849, só aconteceu porque Maria Júlia da Conceição Nazareth não aceitou ser preterida como a Iyalorixá do Ilê Iyanassô Oká, que fora herdado por sua irmã-de-santo. Sua dissidência culminou na fundação de sua própria casa de axé.

Outro exemplo de conflito extraído da pesquisa ocorre no Ilê Odé: a Iyakekerê (mãe pequena) da casa é irmã biológica do Babalorixá, foi iniciada por uma mãe-de-santo que conduzia seus rituais de forma diferenciada dos padrões herdados das casas tradicionais Ketu, como é o caso do axé Gantois e seus descendentes. Por conta disso, a mesma vem apresentando oposição e discordância ao andamento das atividades da casa, muitas vezes se ausentando das obrigações. É comum, também, haver divergências, mesmo que latentes, entre os recém iniciados e as autoridades da casa, por conta do processo inicial de adaptação à rigidez das normas da religião.

O poder nos terreiros, não se expressa, somente, na estruturação da divisão hierárquica e dos oyês (títulos). Pode-se observá-lo desde as representações simbólicas físicas – o poder objetivado –, até as maneiras com que pessoas se comportam na presença de outras, às quais têm uma relação desigual de poder. É possível distinguir quem tem mais poder pela roupa que veste, pelas contas que usa e, até mesmo, pela forma como se dirige aos outros membros do grupo. Alguns elementos possibilitam a percepção das expressões do poder no terreiro:


A SENIORIDADE

No terreiro, a idade biológica pouco importa; o que vale é a idade de santo, em que os mais velhos têm prerrogativas e direitos frente aos mais novos. “Toda hierarquia religiosa é montada sobre o tempo de aprendizagem iniciática, numa lógica segundo a qual quem é mais velho viveu mais e, por conseguinte, sabe mais” Prandi (2001, p. 54).

Quando se recolhe um barco de iaôs para iniciar os ritos de feitura no santo, que é o primeiro passo para se integrar à hierarquia, é obedecida uma ordem, e essa ordem será para sempre respeitada enquanto os componentes daquele barco fizerem parte do candomblé. O barco nada mais é do que o grupo de pessoas que passam juntas pelos ritos iniciáticos. “O ilê axé é composto por uma hierarquia baseada na idade iniciática.

Esse valor da antiguidade da iniciação caracteriza as diferenças de poder e status entre os irmãos” (LUZ, 1995, p. 534).

Após o período de reclusão, haverá uma cerimônia pública, na qual os orixás, incorporados em seus iniciados, irão em público gritar seu orunkó (nome) no barracão. A partir daí, eles serão chamados dentro do grupo pela ordem de entrada na camarinha em que passaram pela iniciação e pela mesma ordem na qual serão apresentados ao público na saída: o primeiro é o dofono; o segundo dofonitinho; o terceiro fomo; o quarto fomutinho; o quinto gamo; o sexto gamotinho; o sétimo domo; o oitavo domutinho; o nono vito e o décimo vitutinho. Luz (1995, p. 533) elucida: “Para os sacerdotes, antiguidade significará posto, isto é, espaços específicos para o exercício das qualidades e atributos do seu axé”. A respeito desse princípio, afirma Vivaldo:

Esse princípio, já foi dito, é válido na estrutura do próprio barco, em que o dofono é sempre o mais velho do que os outros irmãos do barco, e o segundo mais velho do que o terceiro, este mais velho do que o quarto, e assim sucessivamente.

Pequeno ou desprezível que pareça o tempo de diferença em termos de duração mensurável, esse intervalo no candomblé possui um sentido que está para além das dimensões convencionais do tempo (LIMA, 2003, p. 78).

O CONHECIMENTO

É “o tempo de santo” que confere a sabedoria – o maior dom que uma pessoa pertencente ao Candomblé pode receber. De alguém do candomblé que sabe, diz-se “Ela sabe”. Pode entrar e sair de qualquer Terreiro, “sem fazer vergonha”, como se diz no Candomblé, a vergonha é não saber. Saber, no candomblé, significa ser capaz de participar com perfeição, seja nos atos mais simples como a recepção de alguém no Terreiro, seja na preparação de tudo que é necessário para a realização de um rito, ou seja, ainda, ser capaz de receber seu próprio orixá ou preparar os outros para sua recepção (SIQUEIRA, 1998, p. 202).

Trata-se, aqui, do conhecimento ritual, ou na linguagem do povo de candomblé – “os fundamentos”. Esse conhecimento é transmitido oralmente e pela participação nas obrigações no terreiro, em que os mais velhos vão ensinando os mais novos como fazer as comidas votivas, os ebós, os cânticos e as danças. “Os ebômis são os que sabem, porque são mais velhos, viveram mais, acumularam maior experiência. Sua autoridade é dada pelo conhecimento acumulado, que pressupõe saber maior” (PRANDI, 2001, p. 54).

Para deter esse conhecimento é preciso, antes, viver a religião e demonstrar compromisso e humildade para que os ebômis o transmitam. Destarte, quem possui esse conhecimento detém um poder acumulado ao longo dos anos. “Conhecer e saber, nesse contexto é experimentar, sentir, vivenciar. Não há separação estanque entre vivido e concebido, saber é fazer e fazer é saber” (LUZ, 1995, p. 574). Ou como diz Prandi (2001, p. 55): “Saber é poder, é proximidade maior com os deuses e seus mistérios, é sabedoria no trato das coisas de axé, a força mística que move o mundo, manipulada pelos ritos”.

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forte abraço!

Babalorixá Oríosè

Asé!


fonte: Cadernos do Sep Adm - n° 3 – 2006