Papo de Terreiro: Ọ̀ṣun - Oxum

Ọ̀ṣun - Oxum


Ọ̀ṣun
Ọ̀ṣun
Ọ̀ṣun, nome de um rio em Oṣogbô,região da Nigéria, em Ijeṣá. É ele considerado a morada mítica da Orixá. Apesar de ser comum a associação entre rios e Orixás femininos da mitologia africana, Ọ̀ṣun é destacada como a dona da água doce e, por extensão, de todos os rios. Portanto seu elemento é a água em discreto movimento nos rios, a água semiparada das lagoas não pantanosas, pois as predominantemente lodosas são destinadas à Nanã e, principalmente as cachoeiras são de Ọ̀ṣun, onde costumam ser-lhe entregues as comidas rituais votivas e presentes de seus filhos-de-santo.
Ọ̀ṣun domina os rios e as cachoeiras, imagens cristalinas de sua influência: atrás de uma superfície aparentemente calma podem existir fortes correntes e cavernas profundas.
Ọ̀ṣun é conhecida por sua delicadeza. As lendas adornam-na com ricas vestes e objetos de uso pessoal Orixá feminino, onde sua imagem é quase sempre associada a maternidade, sendo comum ser invocada com a expressão "Mamãe Ọ̀ṣun". Gosta de usar colares, jóias, tudo relacionado à vaidade, perfumes, etc.
Filha predileta de Òṣàlà e Yèmọnja. Nos mitos, ela foi casada com Ọ̀ṣọ́ọ̀si, a quem engana, com Ṣàngó, com Ògún, de quem sofria maus tratos e Ṣàngó a salva.
Seduz Ọbalúwaìye, que fica perdidamente apaixonado, obtendo dele, assim, que afaste a peste do reino de Ṣàngó. Mas Ọ̀ṣun é considerada unanimente como uma das esposas de Ṣàngó e rival de Iansã e Òbá.
Segunda mulher de Ṣàngó, deusa do ouro (na África seu metal era o cobre), riqueza e do amor, foi rainha em Ọyọ, sendo a sua preferida pela jovialidade e beleza.
À Ọ̀ṣun pertence o ventre da mulher e ao mesmo tempo controla a fecundidade, por isso as crianças lhe pertencem. A maternidade é sua grande força, tanto que quando uma mulher tem dificuldade para engravidar, é à Ọ̀ṣun que se pede ajuda. Ọ̀ṣun é essencialmente o Orixá das mulheres, preside a menstruação, a gravidez e o parto. Desempenha importante função nos ritos de iniciação, que são a gestação e o nascimento. Orixá da maternidade, ama as crianças, protege a vida e tem funções de cura.
Ọ̀ṣun mostrou que a menstruação, em vez de constituir motivo de vergonha e de inferioridade nas mulheres, pelo contrário proclama a realidade do poder feminino, a possibilidade de gerar filhos.
Fecundidade e fertilidade são por extensão, abundância e fartura e num sentido mais amplo, a fertilidade irá atuar no campo das idéias, despertando a criatividade do ser humano, que possibilitará o seu desenvolvimento. Ọ̀ṣun é o orixá da riqueza - dona do ouro, fruto das entranhas da terra. É alegre, risonha, cheia de dengos, inteligente, mulher-menina que brinca de boneca, e mulher-sábia, generosa e compassiva, nunca se enfurecendo. Elegante, cheia de jóias, é a rainha que nada recusa, tudo dá. Tem o título de iyalodê entre os povos Yoruba: aquela que comanda as mulheres na cidade, arbitra litígios e é responsável pela boa ordem na feira.
Ọ̀ṣun tem a ela ligado o conceito de fertilidade, e é a ela que se dirigem as mulheres que querem engravidar, sendo sua a responsabilidade de zelar tanto pelos fetos em gestação até o momento do parto, onde Yèmọnja ampara a cabeça da criança e a entrega aos seus Pais e Mães de cabeça. Ọ̀ṣun continua ainda zelando pelas crianças recém-nascidas, até que estas aprendam a falar.
É o orixá do amor, Ọ̀ṣun é doçura sedutora. Todos querem obter seus favores, provar do seu mel, seu encanto e para tanto lhe agradam oferecendo perfumes e belos artefatos, tudo para satisfazer sua vaidade. Na mitologia dos orixás ela se apresenta com características específicas, que a tornam bastante popular nos cultos de origem negra e também nas manifestações artísticas sobre essa religiosidade. O orixá da beleza usa toda sua astúcia e charme extraordinário para conquistar os prazeres da vida e realizar proezas diversas. Amante da fortuna, do esplendor e do poder, Ọ̀ṣun não mede esforços para alcançar seus objetivos, ainda que através de atos extremos contra quem está em seu caminho. Ela lança mão de seu dom sedutor para satisfazer a ambição de ser a mais rica e a mais reverenciada. Seu maior desejo, no entanto é ser amada, o que a faz correr grandes riscos, assumindo tarefas difíceis pelo bem da coletividade. Em suas aventuras, este orixá é tanto uma brava guerreira, pronta para qualquer confronto, como a frágil e sensual ninfa amorosa. Determinação, malícia para ludibriar os inimigos, ternura para com seus queridos, Ọ̀ṣun é, sobretudo a deusa do amor.
O Orixá amante ataca as concorrentes, para que não roubem sua cena, pois ela deve ser a única capaz de centralizar as atenções. Na arte da sedução não pode haver ninguém superior a Ọ̀ṣun. No entanto ela se entrega por completo quando perdidamente apaixonada afinal o romantismo é outra marca sua. Da África tribal à sociedade urbana brasileira, a musa que dança nos terreiros de espelho em punho para refletir sua beleza estonteante é tão amada quanto à divina mãe que concede a valiosa fertilidade e se doa por seus filhos. Por todos seus atributos a belíssima Ọ̀ṣun não poderia ser menos admirada e amada, não por acaso a cor dela é o reluzente amarelo ouro, pois como cantou Caetano Veloso, "gente é pra brilhar, mas Ọ̀ṣun é o próprio brilho em orixá.
A face de Ọ̀ṣun é esperada ansiosamente por sua mãe, que para engravidar leva ebó (oferenda) ao rio. E tal desespero não é o de Yèmọnja ao ver sua filhinha sangrar logo após nascer. Para curá-la a mãe mobiliza Ògún, que recorre ao curandeiro Ọ̀sónyìn, afinal a primeira e tão querida filha de Yèmọnja não podia morrer. Filha mimada, Ọ̀ṣun é guardada por Ọrúnmilà, que a cria.
Nanã é a matriarca velha, ranzinza, avó que já teve o poder sobre a família e o perdeu, sentindo-se relegada a um segundo plano. Yèmọnja é a mulher adulta e madura, na sua plenitude. É a mãe das lendas - mas nelas, seus filhos são sempre adultos. Apesar de não ter a idade de Òṣàlà (sendo a segunda esposa do Orixá da criação, e a primeira é a idosa Nanã), não é jovem. É a que tenta manter o clã unido, a que arbitra desavenças entre personalidades contrastantes, é a que chora, pois os filhos adultos já saem debaixo de sua asa e correm os mundos, afastando-se da unidade familiar básica.
Para Ọ̀ṣun, então, foi reservado o posto da jovem mãe, da mulher que ainda tem algo de adolescente, coquete, maliciosa, ao mesmo tempo em que é cheia de paixão e busca objetivamente o prazer. Sua responsabilidade em ser mãe se restringe às crianças e bebês.Começa antes, até, na própria fecundação, na gênese do novo ser, mas não no seu desenvolvimento como adulto. Ọ̀ṣun também tem como um de seus domínios, a atividade sexual e a sensualidade em si, sendo considerada pelas lendas uma das figuras físicas mais belas do panteão místico Yorubano.
Sua busca de prazer implica sexo e também ausência de conflitos abertos - é dos poucos Orixás Yorubas que absolutamente não gosta da guerra.
Tudo que sai da boca dos filhos da Ọ̀ṣun deve ser levado em conta, pois eles têm o poder da palavra, ensinando feitiços ou revelando presságios.
Desempenha importante papel no jogo de búzios, pois à ela quem formula as perguntas que Èṣù responde.
No Candomblé, quando Ọ̀ṣun dança traz na mão uma espada e um espelho, revelando-se em sua condição de guerreira da sedução. Ela se banha no rio, penteia seus cabelos, põe suas jóias e pulseiras, tudo isso num movimento lânguido e provocante.
Ọ̀ṣun
Caracteristicas
AnimaisPomba Rola.
BebidaChampanhe
ChakraFrontal
Comidas
CorAmarelo (Em algumas casas: Azul)
Data Comemorativa8 de dezembro
Dia da SemanaSábado
ElementoÁgua doce
EssênciasLírio, rosa.
Fio de ContasCristal azul. (Em algumas casas: Amarelo)
FloresLírio, rosa amarela.
Incompatibilidadesabacaxi, barata
InstrumentoAbebê
MetalOuro
Numero5
OduÒSE MEJI
PedrasTopázio (amarelo e azul).
PlanetaVênus (Lua)
Ponto de Forçacachoeiras, rios ou nascentes
SaudaçãoEri YèYé Ó!
SaúdeÓrgãos reprodutores (femininos), coração.
SímboloCoração ou cachoeira, Abebe
SincretismoNossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora da Aparecida, Nossa Senhora de Fátima, Nossa Senhora de Lourdes, Nossa Senhora das Cabeças, Nossa Senhora de Nazaré.
Folhas
Qualidades
  • Yèyé MORIN ou IBERIN (feminina e elegante)
  • Yèyé Ipetu deve ser Ọya Petu.
  • Ọ̀ṣun POPOLÓKUM (que não desce sobre a cabeça de suas filhas)
  • Yèyé OLÓKÒ (vive nas florestas)
  • Yèyé Ipóndà A mãe de Lógunẹde, orixá menino que compartilha dos seus axés. Ambos dançam ao som do ritmo ijexá, toque que recebe o nome de sua região de origem. Usa um abebé nas mãos, uma alfange, por ser guerreira, e um ofá dourado, por sua ligação com Ọ̀ṣọ́ọ̀si. É a verdadeira Ọ̀ṣun Ijeṣa que veio de Ijesa ou de Ipondá. Vive no mato com o marido, veste-se de amarelo ouro. E desconfiada, astuta, observadora, intuitiva.
  • Yèyé Ònírá Caminha com Ọya Ònírá, com quem muitas vezes é confundida.
  • Yèyé Okè é, provavelmente, a mesma que Yèyé Loke, tipo muito guerreiro.
  • Yèyé OGA é uma òsun velha e rabugenta.
  • Ọ̀ṣun Karé é um tipo de òsun mais velha, autoritária, guerreira e agressiva.
  • Ọ̀ṣun ABALÔ (Agba ilu) é uma velha òsun, a mais idosa de todas, e chefe das mulheres. Maternal, avó, amorosa é uma mulher que tem numerosos filhos e netos. Mas é bastante severa e autoritária. Usa azul claro. E abèbé
  • Ọ̀ṣun Òpàrà seria a mais jovem das Òsun, e um tipo guerreira que acompanha Ògún (ou Sàngó) vivendo com ele pelas estradas; dança com ele quando se manifestam, juntos numa festa, leva uma espada na mão e pode vestir-se de cor de rosa.
  • Ọ̀ṣun Ọṣogbò é uma òsun muito jovem e vaidosa, que usa colares de contas de louça amarelo claro.
  • Ọ̀ṣun Ìyanlá ou Àyála (a avó, que foi mulher de Ògún )
  • Ọ̀ṣun Ijùmú Com estreita ligação com as feiticeiras Iyámi-Ajẹ́, considerada a rainha de todas as Oxuns. Temida pela suas brigas e vinganças
  • Ajagura, outra òsun guerreira que leva espada, jovem, casada com Aganju, rival de Yasan. Representa um tipo semelhante a Apará; Apara parece, porém mais agressiva e orgulhosa.
  • Yèyé odo é a òsun das fontes; talvez seja a mesma que íyá mi Odo ou Iya Nodo, um tipo Yemánjá.
  • Ọ̀ṣun iya omi é a òsun saudada no siré, também idosa. É aquela que faz as perguntas a Esu no jogo divinatório de Ifá.
  • Éwuji é uma Ọ̀ṣun maternal e generosa, saudada no pàdé.
Batuque
  • Ọxum Docó - matriarca e idosa. (sincretizada como Nossa Senhora Aparecida) (Nação Batuque)
  • Ọxum Panda - moça, coquete e vaidosa (sincretizada como Nossa Senhora da Conceição)(Nação Batuque)
  • Ọxum Demun - entre Pandá e Docô (meia idade - adjuntó somente com Ọ̀sónyìn) (Nação Batuque)
  • Ọxum Panda Ibeji - Ọ̀ṣun criança (Nação Batuque)
Sincretismos
Nossa Senhora da Conceição
Nossa Senhora Aparecida
Atribuições
Ela estimula a união matrimonial, e favorece a conquista da riqueza espiritual e a abundância material. Atua na vida dos seres estimulando em cada um os sentimentos de amor, fraternidade e união.
Características dos filhos de Ọ̀ṣun
Os filhos de Ọ̀ṣun amam espelhos, jóias caras, ouro, são impecáveis no trajar e não se exibem publicamente sem primeiro cuidar da vestimenta, do cabelo e, as mulheres, da pintura.
As pessoas de Ọ̀ṣun são vaidosas, elegantes, sensuais, adoram perfumes, jóias caras, roupas bonitas, tudo que se relaciona com a beleza.
Talvez ninguém tenha sido tão feliz para definir a filha de Ọ̀ṣun como o pesquisador da religião africana, o francês Pierre Verger, que escreveu: "o arquétipo de Ọ̀ṣun é das mulheres graciosas e elegantes, com paixão pelas jóias, perfumes e vestimentas caras. Das mulheres que são símbolo do charme e da beleza. Voluptuosas e sensuais, porém mais reservadas que as de Iansã. Elas evitam chocar a opinião publica, á qual dão muita importância. Sob sua aparência graciosa e sedutora, escondem uma vontade muito forte e um grande desejo de ascensão social".
Os filhos de Ọ̀ṣun são mais discretos, pois, assim com apreciam o destaque social, temem os escândalos ou qualquer coisa que possa denegrir a imagem de inofensivos, bondosos, que constroem cautelosamente. A imagem doce, que esconde uma determinação forte e uma ambição bastante marcante.
Os filhos de Ọ̀ṣun têm tendência para engordar; gostam da vida social, das festas e dos prazeres em geral. Gostam de chamar a atenção do sexo oposto.
O sexo é importante para os filhos de Ọ̀ṣun. Eles tendem a ter uma vida sexual intensa e significativa, mas diferente dos filhos de Iansã ou Ògún. Representam sempre o tipo que atrai e que é, sempre perseguido pelo sexo oposto. Aprecia o luxo e o conforto, é vaidoso, elegante, sensual e gosta de mudanças, podendo ser infiel. Despertam ciúmes nas mulheres e se envolvem em intrigas.
Na verdade os filhos de Ọ̀ṣun são narcisistas demais para gostarem muito de alguém que não eles próprios, mas sua facilidade para a doçura, sensualidade e carinho pode fazer com que pareçam os seres mais apaixonados e dedicados do mundo. São boas donas de casa e companheiras.
São muito sensíveis a qualquer emoção, calmos, tranqüilos, emotivos, normalmente têm uma facilidade muito grande para o choro.
O arquétipo psicológico associado a Ọ̀ṣun se aproxima da imagem que se tem de um rio, das águas que são seu elemento; aparência da calma que pode esconder correntes, buracos no fundo, grutas tudo que não é nem reto nem direto, mas pouco claro em termos de forma, cheio de meandros.
Faz parte do tipo, uma certa preguiça coquete, uma ironia persistente, porém discreta e, na aparência, apenas inconseqüente. Pode vir a ser interesseiro e indeciso, mas seu maior defeito é o ciúme. Um dos defeitos mais comuns associados à superficialidade de Ọ̀ṣun é compreensível como manifestação mais profunda: seus filhos tendem a ser fofoqueiros, mas não pelo mero prazer de falar e contar os segredos dos outros, mas porque essa é a única maneira de terem informações em troca.
É muito desconfiado e possuidor de grande intuição que muitas vezes é posta à serviço da astúcia, conseguindo tudo que quer com imaginação e intriga. Os filhos de Ọ̀ṣun preferem contornar habilmente um obstáculo a enfrentá-lo de frente. Sua atitude lembra o movimento do rio, quando a água contorna uma pedra muito grande que está em seu leito, em vez de chocar-se violentamente contra ela, por isso mesmo, são muito persistentes no que buscam, tendo objetivos fortemente delineados, chegando mesmo a ser incrivelmente teimosos e obstinados.
Entretanto, ás vezes, parecem esquecer um objetivo que antes era tão importante, não se importando mais com o mesmo. Na realidade, estará agindo por outros caminhos, utilizando outras estratégias.
Ọ̀ṣun é assim: bateu, levou. Não tolera o que considera injusto e adora uma pirraça. Da beleza à destreza, da fragilidade à força, com toque feminino de bondade
Lendas de Ọ̀ṣun
Ọ̀ṣun
Como Ọ̀ṣun conseguiu participar das reuniões dos Orixás Masculinos
Logo que todos os Orixás chegaram à terra, organizavam reuniões das quais mulheres não podiam participar. Ọ̀ṣun, revoltada por não poder participar das reuniões e das deliberações, resolve mostrar seu poder e sua importância tornando estéreis todas as mulheres, secando as fontes, tornando assim a terra improdutiva. Ọlọ́run foi procurado pelos Orixás que lhe explicaram que tudo ia mal na terra, apesar de tudo que faziam e deliberavam nas reuniões. Ọlọ́run perguntou a eles se Ọ̀ṣun participava das reuniões, foi quando os Orixás lhe disseram que não. Explicou-lhes então, que sem a presença de Ọ̀ṣun e do seu poder sobre a fecundidade, nada iria dar certo. Os Orixás convidaram Ọ̀ṣun para participar de seus trabalhos e reuniões, e depois de muita insistência, Ọ̀ṣun resolve aceitar. Imediatamente as mulheres tornaram-se fecundas e todos os empreendimentos e projetos obtiveram resultados positivos. Ọ̀ṣun é chamada Iyalodê (Iyáláòde), título conferido à pessoa que ocupa o lugar mais importante entre as mulheres da cidade.
Como Ọ̀ṣun criou o Candomblé
Foi de Ọ̀ṣun a delicada missão dada por Ọlọ́run de religar o orum (o céu) ao aiê (a terra) quando da separação destes pela displicência dos homens. Tamanho foi o aborrecimento dos orixás em não poder mais conviver com os humanos que Ọ̀ṣun veio ao aiê (a terra) prepará-los para receber os deuses em seus corpos. Juntou as mulheres, banhou-as com ervas, raspou e adornou suas cabeças com pena de Ecodidé (um pássaro sagrado), enfeitou seus colos com fios de contas coloridas, seus pulsos com idés (pulseiras), enfim as fez belas e prontas para receberem os orixás. E eles vieram. Dançaram e dançaram ao som dos atabaques e xequerês. Para alegria dos orixás e dos humanos estava inventado o Candomblé.
Ọ̀ṣun é destemida diante das dificuldades enfrentadas pelos seus
  • Ela usa sua sensualidade para salvar sua comunidade da morte. Dança com seus lenços e o mel, seduzindo Ògún até que ele volte a produzir os instrumentos para a agricultura. Assim a cidade fica livre da fome e miséria.
  • Ọ̀ṣun enfrenta o perigo quando Ọlọ́run, Deus supremo, ofendido pela rebeldia dos orixás, prende a chuva no orum (Céu), deixando que a seca e a fome se abatam sobre o aiê (a Terra). Transformada em pavão, Ọ̀ṣun voa até o deus maior levando um ebó, para suplicar ajuda. No caminho ela não hesita em repartir os ingredientes da oferenda com o velho Oṣàlúfọ́n e as crianças que encontra. Mesmo tornando-se abutre pelo calor do sol, que lhe queima, enegrecendo as penas, ela alcança a casa de Ọlọ́run. E consegue seu objetivo pela comoção de Ọlọ́run.
  • Òṣàlà tem seu cajado jogado ao mar e a perna ferida por Iansã. Ọ̀ṣun vem para ajudar o velho, curando-o e recuperando seu pertence. Ela é adorada por Òṣàlà.
  • Com grande compaixão, Ọ̀ṣun intercede junto a Ọlọ́run para que ele ressuscite Ọbalúwaìye, em troca do doce mel da bela orixá.
  • E ela garante a vida alheia também ao acolher a princesa Ala, grávida, jogada ao rio por seu pai. Ọ̀ṣun cuida da recém-nascida, a querida Ọya.
A Riqueza de Ọ̀ṣun
Com suas jóias, espelhos e roupas finas, Ọ̀ṣun satisfaz seu gosto pelo luxo. Ambiciosa, ela é capaz de geniais estratagemas para conseguir êxito na vida. Vai à frente da casa de Òṣàlà e lá começa a fazer escândalo, caluniando-o aos berros, até receber dele a fortuna desejada para então se calar. E assim Ọ̀ṣun torna-se "senhora de tanta riqueza como nenhuma outra Yabá (Orixá feminino) jamais o fora".
Os Amores de Ọ̀ṣun
Ọ̀ṣun luta para conquistar o amor de Ṣàngó e quando o consegue é capaz de gastar toda sua riqueza para manter seu amado.
Ela livra seu querido Ọ̀ṣọ́ọ̀si do perigo e entrega-lhe riqueza e poder para que se torne Alaketu, o rei da cidade de Ketu.
Ọ̀ṣun provoca disputa acirrada entre dois irmãos por seu amor: Ṣàngó e Ògún, ambos guerreiros famosos e poderosos, o tipo preferido por ela. Ṣàngó é seu marido, mas independente disso, se um dos dois irmãos não a trata bem, o outro se sente no direito de intervir e conquistá-la. Afinal Ọ̀ṣun quer ser amada e todos sabem que ela deve ser tratada como uma rainha, ou seja, com roupas finas, jóias e boa comida, tudo a seu gosto. A beleza é o maior trunfo do orixá do amor. Como esposa de Ṣàngó, ao lado de Òbá e Ọya, Ọ̀ṣun é a preferida e está sempre atenta para manter-se a mais amada.
Como Ọ̀ṣun conseguiu o segredo do Jogo de Búzios
Ọ̀ṣun queria saber o segredo do jogo de búzios que pertencia a Èṣù e este não queria lhe revelar. Ọ̀ṣun foi procurá-lo. Ao chegar perto do reino de Èṣù, este desconfiado perguntou-lhe o que queria por ali, que ela deveria embora e que ele não a ensinaria nada. Ela então o desafia a descobrir o que tem entre os dedos. Èṣù se abaixa para ver melhor e ela sopra sobre seus olhos um pó mágico que ao cair nos olhos de Èṣù o cega e arde muito. Èṣù gritava de dor e dizia;
- Eu não enxergo nada, cadê meus búzios?
Ọ̀ṣun fingindo preocupação, respondia:
- Búzios? Quantos são eles?
- Dezesseis, respondeu Èṣù, esfregando os olhos.
- Ah! Achei um, é grande!
- É Okanran, me dê ele.
- Achei outro, é menorzinho!
- É Eta-Ogundá, passa pra cá...
E assim foi até que ela soube todos os segredos do jogo de búzios, Ifá o Orixá da adivinhação, pela coragem e inteligência da Ọ̀ṣun, resolveu-lhe dar também o poder do jogo e dividí-lo com Èṣù.
Conta-nos outra lenda, que para aprender os segredos e mistérios da arte da adivinhação, Ọ̀ṣun, foi procurar Èṣù. Èṣù, muito matreiro, falou à Ọ̀ṣun que lhe ensinaria os segredos da adivinhação, mas para tanto, ficaria Ọ̀ṣun sobre os domínios de Èṣù durante sete anos, passando, lavando e arrumando a casa do mesmo, em troca ele a ensinaria.
E, assim foi feito, durante sete anos Ọ̀ṣun foi aprendendo a arte da adivinhação que Èṣù lhe ensinará e conseqüentemente, cumprindo seu acordo de ajudar nos afazeres domésticos na casa de Èṣù. Findando os sete anos, Ọ̀ṣun e Èṣù, tinham se apegado bastante pela convivência em comum, e Ọ̀ṣun resolveu ficar em companhia desse Orixá. Em um belo dia, Ṣàngó que passava pelas propriedades de Èṣù, avistou aquela linda donzela que penteava seus lindos cabelos a margem de um rio e de pronto agrado, foi declarar sua grande admiração para com Ọ̀ṣun. Foi-se a tal ponto que Ṣàngó, viu-se completamente apaixonado por aquela linda mulher, e perguntou se não gostaria de morar em sua companhia em seu lindo castelo na cidade de Ọyọ. Ọ̀ṣun rejeitou o convite, pois lhe fazia muito bem a companhia de Èṣù. Ṣàngó então irritado e contrariado, seqüestrou Ọ̀ṣun e levou-a em sua companhia, aprisionando-a na masmorra de seu castelo. Èṣù, logo de imediato sentiu a falta de sua companheira e saiu a procurar, por todas as regiões, pelos quatro cantos do mundo sua doce pupila de anos de convivência. Chegando nas terras de Ṣàngó, Èṣù foi surpreendido por um canto triste e melancólico que vinha da direção do palácio do Rei de Ọyọ, da mais alta torre. Lá estava Ọ̀ṣun, triste e a chorar por sua prisão e permanência na cidade do Rei. Èṣù, esperto e matreiro, procurou a ajuda de Ọrúnmilà, que de pronto agrado lhe cedeu uma poção de transformação para Ọ̀ṣun desvencilhar-se dos domínios de Ṣàngó. Èṣù, através da magia pode fazer chegar as mãos de sua companheira a tal poção. Ọ̀ṣun tomou de um só gole a poção mágica e transformou-se em uma linda pomba dourada, que voou e pode então retornar em companhia de Èṣù para sua morada.
Adurá de Ọ̀ṣun
Osun mo pè ó o!
Oxun eu te chamo
N'ò pè o s'Ikù enì kankan
Não te chamo por causa da morte,
Bénì n'ò s'árùn enì kankan
Não te chamo por causa da doença de alguém.
Mo pè o nìnì owó
Eu te chamo para que tenhamos dinheiro.
Mo pè o nìnì omó
Eu te chamo para que tenhamos filhos.
Mo pè o sì nìnì alàfìa
Eu te chamo para que tenhamos saúde.
Mo pè o sì oro
Eu te chamo para que tenhamos uma vida serena.
Kì awà mà rijà amì o
Para que não sejamos vitimados pela ira das águas.
Odódùn nì a mì orógbó
Dizem que anualmente há orobôs na feira.
Odódùn nì mì obì lorì atè o
Dizem que anualmente há obís novos na feira.
Odódùn nì kì wòn mà rì wà o
Que as pessoas nos vejam todo o ano.
Bi a sè, éyì jù bayì lò, nì àmódùn
Do mesmo modo que fizemos tua festa, que possamos fazer outra melhor, no próximo ano.
Ósùn só wà, kì o màá sì wàbalà lárìn awà omó ré
Oxun, nos proteja, para que não haja problemas entre nós, teus filhos.
Kì ilé mà jó wà
Para que haja paz em nosso lar.
Kì óna mà nà wà o
Que nossos objetivos não se voltem contra nós.
Pèsè asè fùn wà o
Dá-nos axé!
Enì asè amódì arà
À quem estiver doente,
Fùn nì alàfìa o
Dá saúde!
Okó obà, adà obà, kì ó mà sà wà lésè o
Que as leis dos homens não sejam infringidas por nós.
Kì awà mà rì ógùn idìlé!
Que não haja problemas em nossa família!
Vocabulário - Yorùbá
ÌPẸ̀TẸ̀  s.,(cer. rit.)   | ìkpêtê  festa ritualística. Festa ritualística oferecida ao Orixá Oxun
ÌPẸ̀TẸ̀  s.,(com. rit.)   | ìkpêtê  comida ritualística. prato da culinária afro-baiana. É feito com inhame, que depois de cortado bem miúdo, é fervido, até ficar como uma massa, que depois é temperada com azeite-de-dendê, cebola, pimenta e camarão.
ỌMỌLỌKUN  Trad. Lit. Filho de Olókun s.,(com. rit.)   | ómólókun  comida ritualística. comida votiva oferendada ao Orixá Oxun.
OSUN  s.   | ossun  fungo
OSUN  s.   | ossun  cogumelo
OSÚN  s., (art. rit.)   | ossún  pó de coloração vermelha. usado na pintura ritual do Ìyáwò extraido da espécie Pterocarpus osun Craib da Família Leguminosae.
Ọ̀ṢÙN  n., div.   | ôxùn  Orixá Oxun. Orixá da fertilidade e guardiã da essência feminina. que guia a gestação a termo.
Ọ̀ṢÙN KARÉ  n., div.   | ôxùn karé  Qualidade ou Avatar do Orixá Oxun
RỌRA YÈYÉ GBÉ MÍ  saud.   | róra iêié guibé mí  saudação ao orixá oxum. Mãe cuidadosa, proteja-me !
RỌRA YÈYÉ Ò  saud.   | róra iêié ô  saudação ao orixá oxum. Mãe cuidadosa, Oh!
RỌRA YÈYÉ Ó FÍ DÉ RÍ ỌMỌN  saud.   | róra iêié ó fí dé rí óman  saudação ao orixá oxum. Mãe cuidadosa, aquela que usa coroa e protege os seus filhos !
Saiba Mais
Umbanda
Mitologia
Referências
  • Sociedade Espiritualista Mata Virgem