Sabedoria de Petro Velho - Composto por mensagens e reflexões, este livro é escrito no linguajar simples do ancião negro, que partilha a sabedoria adquirida no cativeiro. Pai João conversa a respeito de alegria, esperança, coragem e jovialidade, perdão e trabalho. Mensagem de esperança de quem acredita no poder do homem de conquistar-se a si mesmo. Texto enriquecido com cânticos dos escravos, comentados pelo médium Robson Pinheiro, que elucida seu significado espiritual e os ilustra com casos vividos durante os 30 anos de convivência com o espírito amigo."
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Das Macumbas à Umbanda: A construção de uma religião brasileira (1908-1941), de José Henrique Motta de Oliveira / Arashakamá
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Pombagira e as faces inconfessas do Brasil, de Reginaldo Prandi
Pombagira e as faces inconfessas do Brasil, de Reginaldo Prandi
Do livro de Reginaldo Prandi, Herdeiras do Axé.
São Paulo, Hucitec, 1996, Capítulo IV, pp. 139-164.
I: Personagens de duvidosa moralidade:
O Brasil tem uma larga tradição católica de devoção aos santos, com os quais os fiéis estabelecem relações de favor e de troca que presumem sempre uma certa intimidade com as coisas do mundo sagrado (Camargo et alii, 1973). Com o espraiamento das tradições afro-brasileiras no curso deste século, parece que esta intimidade com personagens do mundo sagrado — agora sobretudo com divindades afro-brasileiras, com as quais os santos se sincretizam, mais os espíritos dos mortos — teria se intensificado. De fato, há uma infindável lista de famílias ou classes de entidades sobrenaturais com que fiéis brasileiros podem estabelecer relações religiosas e mágicas e contatos personalizados, especialmente através de cerimônias em que essas entidades se apresentam através do transe de incorporação: os caboclos, pretos-velhos, ciganos, príncipes, marinheiros, guias de luz, espíritos das trevas, encantados, além dos orixás e voduns.
Pombagira, cultuada nos candomblés e umbandas, é um desses personagens muito populares no Brasil. Sua origem está nos candomblés, em que seu culto se constituiu a partir de entrecruzamentos de tradições africanas e européias. Pombagira é considerada um Exu feminino. Exu, na tradição dos candomblés de origem predominantemente iorubá (ritos Ketu, Efan, Nagô pernambucano) é o orixá mensageiro entre os homens e o mundo de todos os orixás. Os orixás são divindades identificadas com elementos da natureza (o mar, a água dos rios, o trovão, o arco-íris, o fogo, as tempestades, as folhas etc.) e sincretizados com santos católicos, Nossa Senhora e o próprio Jesus Cristo. Assim, Oxalá, o maior dos orixás, divindade da criação, é sincretizado com Jesus, Iemanjá, a Grande Mãe dos orixás e dos brasileiros, com Nossa Senhora da Conceição. Exu, o orixá trickster, o que deve ser sempre homenageado em primeiro lugar, o orixá fálico, que gosta de confundir os homens, que só trabalha por dinheiro, é aquele sincretizado com o Diabo.
Na língua ritual dos candomblés angola (de tradição banto), o nome de Exu é Bongbogirá. Certamente Pombagira (Pomba Gira) é uma corruptela de Bongbogirá, e esse nome acabou por se restringir à qualidade feminina de Exu (Augras, 1989). Na umbanda, formada nos anos 30 deste século do encontro de tradições religiosas afro-brasileiras com o espiritismo Kardecista francês, Pombagira faz parte do panteão de entidades que trabalham na "esquerda", isto é, que podem ser invocadas para "trabalhar para o mal", em contraste com aquelas entidades da "direita", que só seriam invocadas em nome do "bem" (Camargo, 1961: Prandi, 1991a).
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